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Grupo “Não tô de bobeira” resgata vivências dos migrantes da Vila C por meio do samba

Formado por alunos e egressos da UNILA, grupo está preparando EP digital e visualizer, que deve ser lançado no final do ano.

 

A região da Vila C, em Foz do Iguaçu, sempre recebeu um grande número de migrantes, brasileiros e de outros países. Nos anos 70, o bairro abrigou operários de várias partes do Brasil que chegavam para trabalhar nas obras da Hidrelétrica de Itaipu. Mais recentemente, a Vila C passou a receber pessoas de vários países da América Latina que adotaram Foz do Iguaçu para estudar, trabalhar e constituir família. Resgatar a tradição musical trazida por esses fluxos migratórios é um dos objetivos do grupo “Não tô de bobeira”, formado por estudantes e egressos da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), além de pessoas da própria comunidade. O grupo está se preparando para lançar, nos próximos meses, seu primeiro Extended Play (EP), com cinco faixas que serão disponibilizadas nas plataformas digitais, e um visualizer (vídeo). O projeto conta com o apoio da Fundação Cultural de Foz do Iguaçu, com recursos do Fundo Municipal de Incentivo à Cultura.

O grupo começou a se formar em 2017, nas rodas de samba promovidas pelo compositor e estudante de História da UNILA Paulo Silva. “A cada vez que Paulo ousava tocar as desafinadas cordas de seu cavaquinho, alguém que passava parava para ouvir os versos alegres ou melancólicos entoados por sua voz grave. Muitas vezes, ousava cantar junto, batucar na mesa, dançar, sorrir. Assim o ‘Não tô de Bobeira’ foi se formando nas ruas, botecos, vilas, bibliotecas, assentamentos e também na Universidade, não apenas como um grupo musical, mas como um grupo heterogêneo de trabalhadores e trabalhadoras que buscam algo mais do que a dureza que estes nossos dias podem nos oferecer”, lembra a integrante do grupo e egressa do curso de Saúde Coletiva María Cañon Machado.

A composição do grupo expressa algo muito presente na história contemporânea de Foz do Iguaçu: a diversidade nacional e internacional de sua população. O “Não tô de bobeira” é formado por pessoas da Bahia, Minas Gerais, São Paulo e também por uma integrante de origem colombiana. E as músicas do EP – todos sambas compostos por Paulo Silva – retratam as vivências e desafios dos músicos do grupo ao partirem de suas cidades até se conectarem a Foz do Iguaçu. “Muitos de nós vieram para estudar e logo devem retornar a suas terras de origem, levando a aprendizagem da vivência nesse Oeste do Paraná. Outros optam por permanecer nessas terras vermelhas. Assim, tanto nas letras das músicas quanto nas imagens dos vídeos que são lançados, estão presentes ricos e sutis elementos que contam um pouco dessa formação ímpar da querida Vila C, de Foz e suas fronteiras”, diz María. Além de cantar a vida dos migrantes, reflexões sobre questões raciais, de gênero e geracionais também estão presentes nas composições do “Não tô de bobeira”.

Homenagem a Seu Jairo

 

O grupo também busca enaltecer a trajetória do músico popular Jairo Ribeiro, mas conhecido na Vila C como Seu Jairo. Nascido em Itaperuna (RJ), Seu Jairo migrou para o Oeste do Paraná nos anos 60 para trabalhar em fazendas e, posteriormente, no período da construção da Itaipu Binacional, se instalou com a família na Vila C, trabalhando em diversas funções no canteiro de obras da Usina. Mas, além de um trabalhador braçal, Seu Jairo ficou conhecido por ser um popular sanfoneiro e violeiro do bairro. Paralelamente ao ofício nas obras, ele trabalhou em festas locais tocando ritmos populares, além de fazer parcerias com outros músicos da cidade.

Por ser natural do interior do Rio de Janeiro, Seu Jairo se apropriou de um vasto repertório de marchas de carnaval e sambas antigos que hoje inspiram as composições do “Não tô de bobeira”. De acordo com María Cañon, “ele é dono de uma memória admirável e coleciona sambas que nem ferramentas como o YouTube possuem em seu acervo digital”.

 

O contato com seu Jairo permitiu ao grupo conhecer mais sobre a diversidade regional dos trabalhadores que migraram para Foz, principalmente nos anos 70. “A trajetória de vida de Seu Jairo e de sua família nos possibilita entender um pouco mais os processos que conformam essa cidade e região, bem como a história e memória de quem, como muitos e muitas, construíram, constroem e construirão Foz do Iguaçu”.

Créditos: UNILA.

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