O Prêmio Whitley, conhecido como o “Oscar Verde” da conservação ambiental, é uma das honrarias mais prestigiadas do mundo quando o assunto é proteção da natureza, dessa vez entre os ganhadores temos o destaque o projeto Onças do Iguaçu.
Concedido todos os anos pela fundação britânica Whitley Fund for Nature, ele reconhece e apoia líderes de projetos ambientais na Ásia, África e América Latina, que se destacam por seu impacto na preservação da biodiversidade.
Mais do que um troféu, o prêmio oferece visibilidade internacional e recursos financeiros para fortalecer as iniciativas premiadas.
Cientistas latino-americanos ganham destaque em Londres
No último dia 29 de abril, três pesquisadores da América Latina foram reconhecidos em Londres com essa importante premiação: a brasileira Yara Barros (Parque Nacional do Iguaçu), o colombiano Andrés Link e o argentino Federico Kacoliris.
Cada um deles atua em frentes distintas de conservação, mas compartilham o mesmo objetivo: salvar espécies ameaçadas de extinção e transformar a relação entre comunidades e a natureza.
Yara Barros e sua conexão com a onça-pintada
Yara Barros, bióloga e diretora do Projeto Onças do Iguaçu, teve sua vida transformada em 2018.
Quando se viu pela primeira vez frente a frente com uma onça-pintada. Na ocasião, a equipe capturou um macho apelidado de “Croissant”.
“Eu fiquei bem na frente dele para chamar sua atenção, enquanto o veterinário se preparava para aplicar a anestesia. Quando olhei nos olhos dourados daquele animal, senti meu coração ser conquistado”, relembra Yara.
Desde então, Yara passou a liderar ações que unem ciência, educação ambiental e engajamento comunitário no entorno do Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná.
O projeto realiza aproximadamente 400 visitas por ano a propriedades rurais, criando laços de confiança com os moradores. A equipe orienta sobre práticas que evitam conflitos entre humanos e onças, e age rapidamente em casos de ataques ao gado — mesmo que seja de madrugada.
Tecnologia e cooperação binacional fortalecem a conservação
Uma das medidas práticas adotadas pelo projeto é o uso das chamadas*Foxlights — luzes alimentadas por energia solar ou bateria, que emitem flashes aleatórios durante a noite, simulando presença humana para afastar predadores.
Além disso, o projeto mantém uma forte parceria com o Proyecto Yaguareté, na Argentina, já que as onças circulam livremente entre os dois países. Juntos, os dois grupos realizam ações coordenadas de monitoramento, captura e censo populacional, fortalecendo os esforços de conservação transfronteiriça.
Yara e sua equipe apostam em uma abordagem sensível e afetiva, buscando criar uma conexão emocional entre as pessoas e a floresta.
“Queremos transformar o medo em fascínio. A linguagem que usamos aproxima as pessoas da onça e do Parque Nacional, promovendo o sentimento de responsabilidade coletiva pela sua proteção”, explica a bióloga.
Empoderamento feminino e renda sustentável
Outro destaque do projeto é a iniciativa Crocheteiras da Onça, que capacita mulheres da região em amigurumi — uma técnica japonesa de crochê para criar bonecos.
“Descobrimos que muitas mulheres já sabiam crochetar. Então oferecemos formação e criamos um grupo que hoje confecciona oncinhas de crochê vendidas no turismo local, gerando renda e valorizando saberes tradicionais”, conta Yara.
Reconhecimento que inspira
Para Yara Barros, receber o Prêmio Whitley representa muito mais do que um reconhecimento pessoal.
“Esse prêmio simboliza toda uma vida dedicada à proteção de espécies ameaçadas.
É também um tributo a uma equipe incansável, que trabalha todos os dias para que os olhos dourados da onça-pintada continuem iluminando a Mata Atlântica”, afirma.
Fonte: BBC News Brasil.